Teremos um Natal Diferente?

Sidney Fernandes

Finalmente teremos um Natal realmente cristão, em que a figura do aniversariante será homenageada com a vivência do amor puro e da consciência tranquila?

Provavelmente ainda não. A humanidade continua sofrendo muito com diferenças sociais, distanciamento de classes, elevado número de miseráveis, acirrados preconceitos de etnia, cor, posição social, gênero, orientação sexual, ou simplesmente de localização geográfica.

Classes abastadas cercam-se de todo o conforto possível e criam um oásis isolado das misérias humanas, como se fossem eremitas da atualidade, buscando resolver os seus próprios problemas e ignorando os dos demais.

Com esse comportamento egoístico, as pessoas conseguem manter poder financeiro e satisfação, mas não conseguem alcançar a realização interior proporcionada pela dedicação às causas meritórias, que alcançam o próximo desfavorecido.

Além disso, nos últimos tempos, o egoísmo mundial alcançou altos níveis, a partir do momento que as nações ditas desenvolvidas se preocuparam mais em conseguir doses de reforço para a vacinação de seus habitantes contra a covid-19, em detrimento das primeiras doses dos chamados países pobres.

O diretor geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, veio a público denunciar o que ele considera descabido egoísmo: o não cumprimento do compromisso de doação de 1,4 bilhão de doses da vacina contra a covid-19 para as populações mais carentes do planeta.

Quais as consequências dessas atitudes?

Protegemos nossas casas, com altos muros, cercas elétricas, alarmes e outros dispositivos de segurança, visando nos isolar de eventuais ataques criminosos. No entanto, enquanto não nos dispusermos a enfrentar a verdadeira causa da miséria, que acaba se derramando sobre nossas vidas, continuaremos inseguros e vulneráveis.

Temos motivos para pensar que o Natal deste ano será diferente?

Diante da irrupção da variante Omicron do coronavírus, anunciada por países africanos, um dos líderes europeus veio a público fazer o seu mea culpa, assumindo, tacitamente, que a situação da África estava se agravando por falta de solidariedade dos países desenvolvidos.

Com efeito, enquanto o Brasil está se aproximando da total imunização da sua população, há países africanos com percentuais baixíssimos de vacinação.

A manifestação do líder europeu, imediatamente apoiada por outros governantes, é um bom sinal de que o mundo está despertando para a solidariedade. Para que o continente africano receba as doses necessárias, várias nações do planeta começaram a se mobilizar, incluindo países orientais, supostamente frios ao exercício da generosidade.

A partir do momento em que nos conscientizarmos de que todos somos irmãos, não poderemos mais cuidar somente dos mais próximos, pois a desgraça do outro, por mais distante que esteja, poderá se derramar sobre nós e por todo o nosso país.

O exercício da solidariedade, que geralmente se torna presente no Natal, inspira a derrubada de barreiras de nacionalidade, raça e crença. Oxalá, estejamos diante do primeiro dos muitos passos que a humanidade deverá trilhar para que a Terra, um dia, possa ser habitada por uma só família, sob a inspiração do mesmo Deus.