Quero Morrer! – Fernando Rossit

Mãe luta na Justiça para obrigar filho a fazer tratamento que evita sua morte.

Sem esperança, jovem não quer se tratar. Ele sofre de uma doença crônica nos rins.

“É egoísmo uma mãe querer que o filho não desista de viver? Acho que não. Eu faria isso por qualquer pessoa, mesmo que não fosse meu filho”.

Assim a professora Edina Maria Alves Borges, de 55 anos, justifica ter iniciado uma batalha judicial contra o próprio filho, José Humberto Pires de Campos Filho, de 22, para obrigá-lo a submeter-se a sessões de hemodiálise.

“Ele decidiu morrer e acha que é um direito. Como mãe, só quero que ele lute pela vida dele.”

“Ele tem plano de saúde, mas se nega a ir para o hospital. Também recusou a lista de transplante”.

“Ele foi convidado para o Incor de Brasília para uma consulta preparatória para o transplante, mas recusou e o médico não pode fazer nada.”

Foi isso que mãe argumentou com o juiz na audiência em que conseguiu a interdição parcial do filho para obrigá-lo, ao menos, a fazer a hemodiálise.

Foi quando o juiz perguntou se ela não estava sendo egoísta ao querer decidir sobre a vida do filho. Ela sabe que José Humberto vai tentar convencer a Justiça de que é livre para aceitar ou não um tratamento médico.

Uma perícia feita pela Junta Médica do Tribunal de Justiça de Goiás atestou que ele tem “total capacidade de entendimento”, mas “imaturidade afetiva e emocional”, o que tornaria parcial sua capacidade de tomar decisões. Por isso, determinou-se a hemodiálise.

Veja o depoimento do jovem (José Humberto) para os Jornais “O Popular”, “O Globo” e “Estadão” em 17/02/17:

“Sei o que é melhor para mim. Se não vou viver feliz, prefiro morrer”.

José Humberto Pires de Campos Filho afirma que sua decisão segue sua consciência. “Sei o que é melhor para mim. E o melhor é viver do jeito que vivia antes, e era feliz. Se não vou viver feliz, prefiro morrer”, disse.

“Estou indo para fazer hemodiálise por ser obrigado pela Justiça, mas eu vou lutar para derrubar a liminar”, afirmou.

Ao ser questionado se não vale a pena lutar enquanto há vida, já que muitas pessoas enfrentam tratamentos difíceis contra o câncer e muitas vezes se recuperam, ele disse que não tem a força dessas pessoas. “Meu tratamento é muito doloroso e não vejo futuro, não quero viver assim. É melhor que seja do meu jeito. Vou brigar por esse direito.”

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De acordo com Dr.Gilson Luís Roberto, presidente da Associação Médico-Espírita do Rio Grande do Sul (AME-RS), existem dois tipos de eutanásia:

-a eutanásia ativa (uso de algum método para abreviar a vida);

-ou passiva (deixar de utilizar ou suspender o suporte que mantém a vida), como sendo uma forma de provocar a morte e evitar o “sofrimento” (esse é o caso de Jose Humberto, acima descrito).

Querer morrer é “um desrespeito pela vida e uma insubmissão aos desígnios divinos através da fuga das experiências necessárias ao nosso ajustamento espiritual, acreditando que a morte significa o cessar da vida, sem considerar a dimensão espiritual e as consequências dolorosas geradas por essa atitude.

“Não entendendo o propósito profundo da existência, crêem que a vida serve apenas para gozar, sendo a morte a solução final diante do desespero e sofrimento”.

Em relação à eutanásia e à morte natural, a Associação Médico-Espírita assim se manifesta:

1) Contrariamente a qualquer meio intencional que antecipe a morte natural do ser humano, seja pela eutanásia, ativa ou passiva, ou pelo suicídio assistido.

2) Favoravelmente à ocorrência da morte natural, a que se dá no tempo certo. Compete-nos respeitar a autonomia do paciente – suas crenças, medos, desejos e esperanças –, oferecendo-lhe apoio médico, psicológico, religioso e familiar, que lhe possibilite morrer sem dor e viver, com dignidade, seus últimos instantes de vida terrena.

Compreendemos o processo do morrer como uma fase importante para o aperfeiçoamento do espírito, repleto de experiências enriquecedoras, tanto para o médico quanto para o paciente, sobretudo, quando ambos têm os olhos voltados para a realidade da vida imortal.

Fernando Rossit

Referências:

1-O Estado de São Paulo (Estadão)

2- http://www.alo.com.br/noticias

3-Carta de Princípios, estabelecida no V Congresso Médico-Espírita – Mednesp – 28/5/2005