Quem era “Jacob” do Livro “Voltei”, de Chico Xavier?

A primeira ideia que vem quando pensamos em Frederico Figner, o protagonista do livro Voltei, é a de que era um espírita culto e orgulhoso. Que ocupava altos cargos nas instituições e se achava insubstituível; que não percebia sua arrogância e despreparo no trato com as pessoas e que, por isso, era detestado por todos (sem se dar conta disso).

Na verdade, foi ele mesmo que “vendeu” essa imagem ao descrever-se no citado livro.

No entanto, lendo a biografia desse homem, me curvei à sua estatura moral. Não, definitivamente, ele não era assim!

Como sabemos, Frederico Figner foi o autor espiritual que escreveu o livro “Voltei”, usando o pseudônimo de irmão Jacob ( psicografia de Chico Xavier do livro, editado pela FEB).

Abaixo, faço um resumo de sua vida (não deixe de ler, você vai se surpreender):

Frederico Figner (1866-1947) foi um homem de biografia bastante incomum. De espírito empreendedor, venceu galhardamente a escorregadiça e perigosa prova da riqueza. Conservava a candura do crente, a fé que transporta montanhas, sem cair no fanatismo religioso.

Instruído em letras e línguas jamais se desviou da postura humilde. Cultivava as mais altas relações sociais paralelamente ao convívio amoroso com infelizes e sofredores.

Trouxe para o Brasil o fonógrafo, o gramofone e o disco.

Criou a primeira gravadora de música nacional, a Odeon.

A ação industrial de Fred, como era carinhosamente chamado, no tempo em que não existia rádio, tem o valor de nobre apostolado patriótico. Teve a preocupação idealista de distribuir por todo o país nosso patrimônio artístico, genuinamente brasileiro.

De origem judaica nascido na Republica hoje chamada Eslováquia, num lar humilde, deixou sua casa aos 13 anos de idade em busca de seus ideais. Esteve em diversos países até que em 1.892 estabeleceu-se no Rio de Janeiro onde entre outras coisas, fundou a famosa Casa Edison e ajudou a divulgar a máquina de escrever em todo o Brasil.

Por seus atos recebeu inúmeras homenagens após seu desencarne, entre elas foi considerado pelo jornal “A Noite Ilustrada” como “o mais brasileiro de todos os estrangeiros, o cidadão dos mil amigos, o protetor dos necessitados, filantropo dos mais legítimos e dedicados”.

Foi apresentado ao Espiritismo por volta de 1.903 por Pedro Sayão, pai da cantora lírica Bidú Sayão. Descrente inicialmente, somente acompanhando a cura através de receita mediúnica da esposa de um funcionário, que Figner se inclinou ao Espiritismo. Dai a fazer parte da FEB como vice-presidente, tesoureiro e membro do Conselho Fiscal foi um pulo.

Além de seus afazeres profissionais, onde fez fortuna, mantinha coluna no jornal “Correio da Manhã” em que divulgava o Espiritismo.

Alma generosa, chegou a acolher em sua própria casa 14 enfermos vítimas do surto da gripe espanhola que assolou nosso país em 1.918 e que não raramente conduzia a morte.

Seu trabalho em tomar ditado de receitas espíritas e dar passes a enfermos celebrizou-se em sua época. Chegava a tomar 150 a 200 receitas por dia e atender inúmeros necessitados que conheciam sua dedicação através dos jornais da época.

Por solicitação de um grupo de atores Figner doou terreno de sua propriedade em Jacarepaguá para a construção do Retiro dos Artistas.

Auto-didata e de extrema coerência ao viver a Doutrina em sua plenitude, não deixou um grande livro com suas ideias – fez mais, deixou suas obras e exemplo de servir com dignidade.

No livro Voltei, trouxe-nos ensinamentos importantes através da auto crítica e reencontro com sua consciência desprendida da matéria. Admitiu os apegos à autoridade e seu orgulho, pois “quase me considerei ofendido, quando os benfeitores espirituais me cortaram a probabilidade do retorno apressado”. Com a humildade que o caracterizara em vida, reagiu: “comecei a guerrear meu individualismo gritante e, examinando a respeitabilidade dos interesses alheios, não me senti suficientemente encorajado a interferências que redundassem no prejuízo do bem geral”.

Além de seus feitos que estão já imortalizados, fiquemos com a lembrança do homem, conforme nos relata Viriato Correia (1.884 – 1.967), jornalista, teatrólogo, romancista e membro da Academia Brasileira de Letras:

“Aos 80 anos tinha as vibrações, os entusiasmos, as vivacidades das juventudes estouvadas. Quem o via pelas ruas, suado, chapéu atirado para a nuca, falando aqui, falando ali, numa pressa de moço de recados, pensava estar vendo um ganhador que, em cima da hora, corria para não perder a hora do negócio. No entanto, não era para ganhar que ele vivia a correr. Rico, muito rico, não precisava entregar-se a vassalagem do ganho.

“Corria para servir os outros, corria para ir ao encontro dos necessitados”.

Fernando Rossit

Referências:

– Boletim SEI – Serviço Espírita de Informação nº 1.822 de 1/3/2003.

– XAVIER, Francisco C. Voltei. Rio de Janeiro: FEB, 1.949

– WANTUIL, Zêus. Grandes Espíritas do Brasil. Rio de Janeiro: FEB, 1.990

– Federação Espírita Catarinense

– Leia mais: http://www.cejn.org.br/products/biografias-frederico-figner/