Quanto Tempo pode durar um Noivado?

“A quem pertence a esposa é o esposo; mas o amigo do esposo, que com ele está e ouve , muito se regozija por ouvir a voz do esposo.”[1]

Os tempos são chegados. A condição de descomprometidos começa a nos incomodar.

Conquistas. Buscas. Frustrações. Enganos. Desilusões.

A razão nos indica novos caminhos , a emoção manifesta-se ansiosa para uma interação pessoal  mais profunda. Aproxima-se a ocasião do Encontro. Momento capaz de abalar as estruturas emocionais mais intensas do  ser.

Receamos. Desestabilizamos. Desconfiguramos. Desmontamos. Desmascaramos.

Tudo o que dantes fazia sentido, hoje parece-nos insípido, vazio, impreciso. Desarmônico.

Não mais encontramos ecos nos relacionamentos transitórios, ingênuos. Nosso espírito, sedento, anseia um relacionamento duradouro, estável, permanente.

Engana-se o leitor que imagine estarmos discorrendo sobre o relacionamento homem e mulher. Vamos mais além!

Naquele dia estava previsto o grande encontro. O Amor estava a caminho. Completou-se a parceria. Agora a família estava completa. Doze!

A festa teria seu início!

Caná da Galileia seria o cenário escolhido para o primeiro e marcante encontro. A partir de então vidas se transformariam. Roteiros mudariam e o desassossego de quem ama seria eterno.

Narra o Evangelista João sobre a primeira manifestação pública de Jesus ocorrida nas Bodas de Caná da Galileia.

João, dos quatro evangelista é considerado o autor mais simbólico e universalista. As passagens ricas em símbolos revelam verdades que transcendem nossa indigente compreensão.

O discípulo amado, simbolicamente nos diz que Jesus é o noivo que inicia um relacionamento sério conosco, “noiva” metaforizada na Humanidade.

A tolerância e a paciência do noivo chegam a ser desconcertantes, pois o Amor não nos constrange a nada. Como afirmaria Paulo: “ Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” [2]. Apenas aguarda nossa transformação para vivermos esse relacionamento.

O otimismo do Noivo é emocionante,  quando vê a noiva apenas enxerga a luz que há em seu interior e o ser renovado e transformado  que um dia surgirá.

Inquietante a intercessão da mãe do noivo no momento dessa festa, percebendo a falta do vinho, movimenta-se para que tudo seja feito sem prejuízo algum.

“Eu sou a videira; vocês são os ramos. [4] O noivo afirmaria.

O  vinho é  símbolo da espiritualização do Ser. Espiritualidade.

Nos prolegômenos de O Livro dos Espíritos, [5] a cepa  é o emblema do trabalho do  criador induzindo-nos a crer que essa obra de cunho altamente espiritualizante é capaz de nos transformar em criaturas mais espiritualizadas.

O fenômeno de transubstanciação nas Bodas de Caná nos chama a atenção e nas anotações e estudos de  Allan Kardec ,compreendemos no capítulo XV de “ A Gênese”  a atuação magnética do Mestre em modificar as estruturas mais simples e as mais profundas do nosso ser .[6]

As seis talhas repletas de água representam símbolos fundamentais para a interpretação da passagem, pois pela tradição judaica  o seis é o número do homem , sugerindo que no sexto dia Deus criou o homem.

A água apresenta um simbolismo todo elástico no período neotestamentário pois ora representa as emoções , ora a sabedoria alegórica ou puro saber. Portanto, a acepção interpretativa desse versículo poderia ser: “Os homens que possuíam todo saber das escrituras “sagradas”, necessitariam agora transformá-los em espiritualidade. Ou seja, transformar a água em vinho.

Quanto tempo pode durar um noivado?

Quanto tempo dispomos para estabelecermos uma união definitiva com o Cristo? É hora de refletir?

Jane Maiolo

Bibliografia:

[1]  XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador, ditado pelo Espírito Emmanuel, RJ: Ed FEB, 1979, pergunta 309.

[2] 1Cor 13:7

[3] João 2:1

[4] Idem 15:5

[5] KARDEC, Allan.. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed FEB ,

[6] KARDEC, Allan. A Gênese, cap. XV- Rio de Janeiro: Ed FEB ,.