Ouvir a Voz de Deus

Sidney Fernandes – 1948@uol.com.br

Se eu quiser falar com Deus tenho que ficar a sós, apagar a luz, calar a voz, encontrar a paz, ter mãos vazias, aceitar a dor e apesar do mal tamanho, alegrar meu coração.

Inspirados versos da composição de Gilberto Gil nos remetem à reflexão de que a conexão com o Alto prescinde de intermediários e instituições religiosas.

Ao adotarmos a atitude genuflexa perante a divindade, havemos de pressupor o cultivo da humildade, do comedimento, do silêncio interior, da resignação e da vitória sobre mágoas e ressentimentos.

Por enquanto, nenhuma novidade, porquanto o próprio Cristo já advertia que, antes de tentar comunicar-se com o Criador, o homem deveria primeiro reconciliar-se com o seu irmão. Mateus, 5:24

Para Léon Denis, respeitado filósofo francês, não havia qualquer óbice em associar-se às preces de irmãos de diferentes religiões, pois conseguia orar tanto em majestosas catedrais góticas, quanto em templos evangélicos, sinagogas ou mesmo em mesquitas. No entanto, para ele, a oração adquiria maior alcance e vigor à borda do mar, nos altos cumes, nas planícies, nas florestas ou mesmo durante a noite, sob as constelações.

Segundo Jesus, Deus é Espírito e em espírito e verdade é que o devem adorar os que o adoram. João, 4

Os homens julgam encontrar o Criador nos templos religiosos e tendem a materializar o culto por intermédio de práticas exteriores. Deus é procurado pelo judeu no templo, pelo católico na missa, pelo protestante no culto, pelo hinduísta entoando mantras, pelo muçulmano repetindo rezas e pelo espírita no centro espírita.

Tudo isso é bom e edificante, mas deve ser apenas parte de nosso empenho de comunhão com a divindade. Se nos limitarmos a essas práticas, confundindo-as com vivência religiosa, estaremos esquecendo o fundamental – o combate às nossas imperfeições, no esforço de renovação íntima que marca a verdadeira religiosidade — ensina Richard Simonetti.

Para ouvir a voz do Alto não precisaremos de um local determinado. Cada um de nós deverá criar, em seu interior, as condições adequadas para a aproximação dos mensageiros divinos. Orar somente com os lábios não despertará as iluminadas forças que dormitam em nosso peito.

A partir do momento em que nos esforçarmos para ser autênticos filhos de Deus, envidando todos os esforços pela transformação íntima, pela minimização de falhas morais e pelo respeito para com o semelhante, estaremos nos iniciando no sublime processo de aproximação com as forças do bem.

Oremos sempre! Não apenas para que Deus ouça nossas súplicas, mas, principalmente, para que aprendamos a ouvir a sua voz.