Onde estão?

Nas instruções dos espíritos do capítulo catorze de O Evangelho Segundo o Espiritismo, o espírito Santo Agostinho nos esclarece dizendo que existem dois tipos de família; a família corporal e a família espiritual.

A primeira é formada pela hereditariedade e parentesco, redundando em vínculos entre seus membros pelas leis e costumes sociais a que todos estamos submetidos, resultando em responsabilidades que nem sempre são cumpridas.

A segunda se forma através da prática mútua da benevolência, do respeito, do entendimento e da boa vontade, enfim, resultando no amor, o mais sublime dos sentimentos.

É fácil observarmos que todos nós temos no entorno aqueles que nos amam, os que nos são neutros, e aqueles outros com os quais temos dificuldades para nos relacionarmos, em função de sentimentos antagônicos, ou aptidões e tendências comportamentais próprias de cada um.

Em relação aos últimos, a recomendação do Senhor Jesus é a de que devemos aproveitar a oportunidade que temos de estarmos juntos para a reconciliação, para a construção ou reconstrução dos laços de afinidade espiritual superior, porque é da Lei de Deus que isto se dê, e se não conseguirmos em uma reencarnação, fica postergado para outra existência física futura o retorno ao caminho evolutivo junto daquele ou daqueles que temos o que corrigir.

Santo Agostinho nos informa ainda que quando vamos planejar uma nova reencarnação, muitos espíritos que nos amam, e que nós amamos, solicitam reencarnar juntos de nós para que o “grupo” possa progredir em conjunto, mas no meio deles poderá haver um ou mais espíritos com os quais temos de nos ajustar, seja fazendo o que não foi feito no passado, seja devolvendo o que tomamos, ou corrigindo o mal que produzimos.

É evidente que, sejam agradáveis ou desagradáveis ao nosso espírito, alguns reencarnam em nossa família consangüínea, e outros reencarnam dispersados no meio social que vamos desenvolver nossas atividades reencarnatórias, segundo nossas necessidades provacionais e ou expiatórias, entrando e saindo de nossas vidas ao longo do tempo em que permanecemos no corpo físico.

Portanto, para a vida de relação, temos que aplicar as recomendações do Senhor Jesus, que foram condensadas em fazer para o próximo o que queremos que nos seja feito, se quisermos ter sucesso espiritual em nossas experiências físicas.

Mas será preciso pensar em outro aspecto.

Se nesta existência todos temos os que amamos, dentro ou fora da família consangüínea, e a alguns destes seríamos capazes de empenhar os mais pesados esforços, dedicando-nos e abdicando de nossas próprias vidas em favor deles, às vezes por toda uma existência, deveríamos nos perguntar: onde estão os demais que amamos desde as outras vidas? A lógica nos dirá que parte está desencarnada, no intervalo entre reencarnações, e outra parte está reencarnada, caminhando pela experiência física em busca do desenvolvimento espiritual, com seu conjunto de provas e expiações, segundo a necessidade de cada espírito.

Raciocinemos sobre a seguinte situação, uma vez que todos somos chamados, diuturnamente, a prática do bem.

Imaginemos que alguém, que não faça parte do nosso grupo consangüíneo, nem do nosso grupo social ou profissional, se nos apresente precisando de nós, para satisfação de uma necessidade qualquer, material ou não, seja um desses espíritos que muito amamos desde outras vidas, mas não os reconhecemos por uma questão de provação.

Ajudamos ou damos desculpas? Julgamos e emitimos sentenças condenatórias? Desconsideramos e nos desviamos? Identificamos os responsáveis pela situação? Buscamos algo para justificar nosso egoísmo?

Dizem os espíritos superiores que uma das dores mais agudas que se experimenta no mundo dos espíritos, é a dor causada pela consciência do bem que se deveria fazer a um ente muito amado, mas que não foi feito em função de motivações quase sempre preconceituosas e mesquinhas, mantendo-o em situação constrangedora e de sofrimento. O remorso e o arrependimento, nesses casos, transformam-se em terríveis companhias conscienciais.

A solução? Praticar o bem com todos. Insistentemente. Sempre na medida de nossas possibilidades, que sempre serão passíveis de serem dilatadas, mas conscientes de que nem sempre poderemos resolver todos os problemas que envolvem a situação.

Somos, nessas ocasiões, chamados a fazer a nossa parte, e dificilmente, para não falar nunca, saberemos quem estamos ajudando ou deixando de ajudar. Tanto pode ser um espírito muito querido, um espírito de alta envergadura espiritual, ou ainda um dos nossos credores desde outras reencarnações.

De qualquer forma é a santa oportunidade de construirmos, ou dilatarmos, os laços de amor que trarão como resultado a implantação do reino de Deus na Terra, através da fraternidade que nos envolve a todos como irmãos que somos.

Pensemos nisso.

Antonio Carlos Navarro

Publicado simultaneamente na Agenda Espírita Brasil – www.agendaespiritabrasil.com.br

Originally posted 2014-09-23 00:01:22.