O Poder Das Mãos

Sidney Fernandes – 1948@uol.com.br

Numa feliz coincidência, encontrei o velho Gumercindo e sua mulher num voo de cidade litorânea para o interior. Como é que o velho benzedor ali se encontrava, em avião de alto porte, cujas passagens estariam bem acima de suas condições financeiras?

Minha esposa, sempre bem informada, socorreu-me, dizendo:

— Os filhos se cotizaram e deram a eles essa viagem de recreio.

Com o apagar das luzes de bordo, começamos a ouvir o choro de uma criança. Mariana, um bebê de cinco meses, não se aquietava de jeito nenhum.

Eu e minha esposa já estávamos em nossa décima oração, procurando transmitir um pouco de sossego e tranquilidade ao bebê, quando vimos, de longe, a esposa de Gumercindo acordando-o delicadamente. Provavelmente, Maria, a esposa do rezador, deve ter lhe perguntado:

— Será que você não consegue ajudar essa criança? Chora sem parar há uma hora e já está sem fôlego…

A mãe, meio desconfiada, seguiu Maria, com Mariana aos berros no colo. Gumercindo aconchegou a criança ao colo e, com uma das mãos, começou a acariciar a sua cabecinha. Num instante, como por encanto, ela se acalmou e dormiu.

Delicadamente, Gumercindo devolveu Mariana aos braços de sua mãe, que, surpresa e emocionada, balbuciou algumas palavras de agradecimento e voltou a sua poltrona.

Tripulantes e passageiros que acompanharam o milagre só não o aplaudiram pelo medo de acordar a criancinha.

Ao final da viagem, na descida do avião, Gumercindo, que precisou da ajuda de uma cadeira de rodas para vencer a distância até o saguão do aeroporto, recebeu um caloroso abraço do pai de Mariana, que lhe disse:

— Não sei quem é o senhor, mas dá para ver que é um homem bom, abençoado por Deus. Mariana está dormindo até agora, depois de horas de intranquilidade. Agradeço-lhe muito o que fez por ela, seja lá qual for a sua religião.

Acostumado com aquelas manifestações de carinho, o velho Gumercindo limitou-se a segurar a mão direita do pai da criança, com as suas duas mãos, num gesto que lembraria a bênção de um taumaturgo.

***

O que aconteceu ali? Um milagre dos santos? A manifestação do Espírito Santo? Ou simplesmente a manipulação de fluidos de um velho e dedicado benzedor, sempre envolvido por espíritos do bem? Não importa! A generosidade de Deus manifesta-se em qualquer local ou momento, desde que conte com os predicados magnéticos de um homem bom, habituado a transmitir as bênçãos que o Alto lhe confia.

Mesmo conhecendo-o há tantos anos, nunca deixarei de me emocionar e me surpreender com os dons inatos de Gumercindo, capazes de consolar, minimizar dores e até realizar curas, quando isso é permitido por seus mensageiros de luz.

Homens santos como Gumercindo jamais tiram férias. Sempre estão à disposição dos mentores espirituais para servir de intermediários, com seu magnetismo, à manifestação da bondade divina, não importando a hora, nem o local. Poderá ser numa humilde choupana, num centro espírita, num terreiro de umbanda, numa igreja católica, num templo evangélico ou, para surpresa de muitos, a bordo de uma aeronave, viajando a mais de setecentos quilômetros horários, numa altura de mais de dez mil metros.

Em qualquer lugar, onde houver a dedicação de um homem bom, fiel intermediário do bem, aí estarão também os enviados dos Senhor.