O Atendimento Fraterno Nosso de Cada Dia – Daniela Migliari

A vida espiritual exorta: “Fora da caridade não há salvação!”. Caminhamos alguns passos nessa compreensão, e nos sentimos fortes e impelidos à prática: vamos a creches, asilos, hospitais e ruas. Atendemos vários irmãos nas muitas escolas benditas: igrejas, centros espíritas, ONGs – instrumentos importantes para colocarmos o precioso ensinamento em prática.

Este ensaio é um passo fundamental para que possamos focar na necessidade de acolhimento que urge em casa, bem ao nosso lado. Conseguiremos atendê-la com a mesma solicitude que prestamos a um desconhecido? Cônjuges, filhos, pais, mães, irmãos, clamam pelo desejo de serem vistos, validados. Nós, que no exercício da caridade, atuamos com tanta paciência e perseverança com pessoas distantes, tombamos, vez após outra, nas oportunidades profícuas que a vida nos traz de aprendermos a amar nossos próximos mais próximos.

Por quê? Porque nós também precisamos de acolhimento e entendimento. Porque estamos em caminhada. Porque faz parte nos sentirmos assim. Porque aprendemos a amar desta forma. Porque ainda estamos nesse momento interior. Porque temos necessidades válidas de nos sentirmos como tal. Então, o exercício convida a acolher a mim, acolher o próximo mais próximo, acolher o desconhecido. Sem ordem, livremente, no exercício contínuo de amar. Como fazer isso?

UM PASSO POR VEZ

Quando uma pessoa distante, em desespero, nos procura para um atendimento fraterno, não exclamamos: “Ora, que necessidade infantil a sua! Que grande bobagem se sentir assim!”. Não! Nós acolhemos, nós ouvimos, nós validamos, compreendemos. E isso não significa consentir com absolutamente tudo. Significa observar a dor do outro, compreender, não julgar e dar um passo por vez. Isso feito, vamos, suavemente, convidando-o a novas reflexões, diferentes formas de ver a vida. Mostramos a alegria do empoderamento no exercício da responsabilidade por si mesmo, até que este ser possa caminhar livremente e de forma auto-consciente.

O atendimento fraterno nosso de cada dia precisa sempre começar por nós mesmos. Em conversas íntimas, a qualquer sinal de desarmonia, olhamos para dentro e nos acalentamos com o mesmo devotamento do desconhecido que atendemos. Nos tornamos o atendente fraterno de nós mesmos: “Querido eu, não se exija tanto, você está aprendendo a amar, a sentir, a se relacionar. Acalme-se, tudo ficará bem! Vamos seguir a caminhada aprendendo, estudando mais, porém, lembrando-nos sempre: nossas necessidades têm uma razão válida! São importantes”. Não nos portamos de forma arrogante, medrosa, viciosa, preconceituosa, raivosa, egoísta simplesmente porque somos do mal. Isso acontece porque algo em nós precisa um tanto mais dos bálsamos do amor.

É SEMPRE DENTRO

Depois desse carinho tão sonhado, uma nova luz encontra campo fértil para se acender. E só então esclarecemos, compreendemos, iluminamos e elevamos essas necessidades até então escondidas. Uma vez iluminadas, as necessidades fortalecem-se e libertam-se, para, por sua vez, tornarem-se emissoras e doadoras desta mesma luz e acolhimento, posto que isso já é realidade internamente. É sempre dentro primeiro, sendo o acolhedor fraterno de si mesmo.

Sabe quem é, em seguida, o próximo mais próximo à espera desse cuidado? É sua mãe, é seu pai, é seu cônjuge, é seu filho, é seu colega de trabalho difícil, é o motorista que te corta no trânsito, é o agressor. Todos ansiosos por serem tratados com a mesma deferência que prestamos nas escolas da caridade, no centro espírita, na mesa mediúnica, no trabalho assistencial.

A cura mais bela está no encontro com o próximo, num caminho belo a ser trilhado, pouco a pouco, no exercício diário da empatia.

Daniela Migliari