Notórios Absurdos

Sidney Fernandes – 1948@uol.com.br

… o mal está em apresentar seriamente coisas que são notórios absurdos.

Allan Kardec

Preciosos textos da Revista Espírita, de Allan Kardec, às vezes nos passam despercebidos. Foi o que aconteceu, para mim, com séria advertência relacionada com as publicações de textos atribuídos a espíritos levianos ou mal intencionados, que podem induzir ao erro pessoas distraídas ou sem condições de discernir entre o verdadeiro e o falso.

Julgamos oportuno narrar o conteúdo de comunicação mediúnica que me foi confiada por Paula, séria e experiente participante de reunião privada de desobsessão, realizada em confiável casa espírita.

Comunicou-se revoltoso espírito que assim verbalizou sua indignação:

— Fulano de tal me enganou. Entreguei a ele todos os meus bens, em troca do céu e me decepcionei. Cheguei aqui e só encontrei dores e desgraças. Entidades grotescas riram na minha cara, dizendo que fui vítima de estelionato religioso. Junto com outros, que por ele também foram ludibriados, irei ao seu encalço.

Tempos mais tarde, Paula foi procurada, à noite, em sua casa, por senhora desconhecida, de nome Jandira, em companhia de amiga de ambas. Ela era a esposa do fulano de tal, mencionado pelo espírito. Desesperada, queria a ajuda de Paula, pois, segundo ela, seu marido estava sob o domínio do mal:

— O diabo tomou conta do meu marido — começou a esposa do dirigente fulano de tal. Não dorme mais, não sai de debaixo da cama, não toma banho e não se alimenta. Oração? Nem pensar. Quando começamos a orar, o diabo toma conta, dizendo que ali está em legião, para se vingar dele.

— E o que diz o “diabo”? — perguntou Paula.

Que ele e seus comparsas foram enganados pelo meu marido e não foram para o céu. Voltaram para ajustar contas com ele. Só o diabo mesmo para falar essa blasfêmia!

Cautelosamente, Paula imediatamente correlacionou o processo obsessivo que lhe estava sendo descrito com a manifestação do espírito indignado, que havia prometido acertar as contas, exatamente com o tal fulano de tal. Na manhã seguinte, ela reuniu um grupo de passistas de sua confiança, de antemão advertidos de que iriam dar atendimento a um grave caso de obsessão.

***

Confesso que, ao final destas linhas, ainda não tomei conhecimento do desfecho do caso do fulano de tal. Julguei, no entanto, útil, a sua descrição, pois corporificam-se, na atualidade, as situações descritas por Allan Kardec, que se repetem diante de nossos olhos, em versões atualizadas, porém pioradas.

Devemos nos precaver, não apenas com relação a tudo o que venha do mundo oculto, mas também contra os notórios disparates de que nos falam homens encarnados, destituídos de escrúpulos, da mesma forma revestidos de hipocrisia, interesses materiais e de malevolência.

A responsabilidade inicial é das próprias vítimas, que, premidas pela dor da doença ou pela velhice, não obstante os males que cometeram em suas vidas, querem porque querem ir para o céu. Para isso, pagarão os olhos da cara por um passaporte para o paraíso. Pedem para ser enganadas e se tornam, de bom grado, vítimas de verdadeiro e ultrajante estelionato religioso.

O segundo problema é mais grave, porquanto geralmente parte de pessoas cultas, teleguiadas por altos interesses eclesiásticos, treinadas para extorquir bens, ainda que de pessoas humildes e pobres. Estes precisam se preparar para as consequências de suas atrocidades, pois conhecem à larga a exortação evangélica que recomenda dar de graça o que de graça recebemos.

Fiquemos com as judiciosas palavras do codificador:

Não esqueçamos que entre os espíritos, assim como na Terra, há seres levianos, desatentos e brincalhões; falsos sábios, vãos e orgulhosos, de um saber incompleto; hipócritas, malévolos e, o que nos parece inexplicável, se de algum modo não conhecêssemos a fisiologia desse mundo, há sensuais, vilões e crapulosos que se arrastam na lama. Ao lado disto, sempre como na Terra, temos seres bons, humanos, benevolentes, esclarecidos, de sublimes virtudes (Revista Espírita).