Mãe teve Zika e Bebê nasceu Saudável

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No telejornal, o repórter falava de uma possível relação do aumento do número de bebês nascidos com uma má-formação na cabeça com o vírus da zika, pouco estudado pela ciência. Aos sete meses de gravidez, Gisele Gonçalves de Lima, 22, estava em casa com o marido, em Jundiaí (SP), quando a notícia a deixou paralisada.

Ela tinha ouvido falar do vírus pela primeira vez em agosto do ano passado, da boca de uma médica em um pronto-socorro no interior de Alagoas. Estava com a barriga saliente, de quatro meses de gestação, quando durante uma viagem feita à cidade natal, Coité do Noia, Gisele começou a sentir febre, muitas dores no corpo, principalmente nas articulações, tontura. “Dois dias depois apareceram umas manchas vermelhas no meu corpo que coçavam bastante. Fiquei com medo e procurei um médico”, conta.

Tinha muita gente com os mesmos sintomas que eu lá, mas elas ficavam em casa, esperando passar. A médica suspeitou que era dengue e me mandou fazer os exames. Eu fui para Arapiraca (cidade vizinha) e o exame deu que eu tinha zika.

Gisele só ligou as peças do quebra-cabeça naquela noite em casa com o marido, o pedreiro José Vicente, 25, vendo o telejornal, já com a barriga enorme. Ela sentiu medo, muito medo, e correu para o hospital para saber se estava tudo bem com o bebê. “Não dava mais para medir a cabecinha dela. Ela já estava quase pronta para nascer. Os médicos não tinham como me dizer nada”, contou.

Meu marido não gostava de falar sobre o assunto

Os dias que faltavam para o nascimento da irmã do pequeno Kayk Mateus, 5, foram um verdadeiro calvário para a família de Gisele. Ninguém falava sobre o assunto, como se falar sobre ele fosse fazer as hipóteses virarem realidade. “A gente não conversava sobre a possibilidade de ela nascer com microcefalia. Meu marido não gostava de falar sobre o assunto. Quando passava algo na televisão, ele me dizia para ter fé que ela ia nascer bem, saudável”, diz.

No dia 17 de dezembro de 2015, após seis horas de dores intensas, a médica se assustou ao tirar a pequena Geovanna de dentro de Gisele. O coração da mãe gelou. Mas, foi só o cordão umbilical que havia estourado. O parto aconteceu no Hospital Universitário de Jundiaí, cheio de médicos residentes.

“Colocaram ela em cima de mim e nesse momento eu senti alívio, chorei muito, agradeci a Deus.”

Avanços monitorados

Por isso, cada avanço da filha é uma vitória diária. Geovanna já levanta a cabeça quando está com a barriga para baixo, se acaba de rir quando alguém a coloca em pé. “Procuro estimular a minha filha. Brinco com ela, converso, vejo ela responder aos estímulos dia a dia. Ela fez dois meses e é bem esperta”, conta a mãe.

O bebê está sendo acompanhado por uma equipe multidisciplinar do hospital universitário, que já coletaram sangue não só da menina, mas dos pais e do irmão. “Na próxima semana, saberemos se será preciso fazer uma tomografia do cérebro dela ou não”, afirma Gisele.

Geovanna deve ser acompanhada até os três anos de vida.

A mãe de Geovanna e Kayk espera ter respostas em breve. No hospital em que Geovanna nasceu foi criado um grupo de pesquisa para investigar a transmissão da zika em gestantes e crianças, comandado pelo professor titular do departamento pediatria da Faculdade de Medicina de Jundiaí, Saulo Passos.

Gisele é a voluntária número 1 da pesquisa. “É um vírus novo, há muitas perguntas sem respostas. Quero contribuir, não só para mim, mas por outras mães. Para que futuramente haja um remédio, um tratamento eficaz”, conta.

Fonte: UOL/FOLHA

Originally posted 2016-03-07 10:41:29.