Kardec e Chico: Suor e Lágrimas – por Sidney Fernandes

A vocação iluminista do Espiritismo, como revivescência do Cristianismo, nos leva a considerar a grande responsabilidade da codificação de Allan Kardec e da obra psicografada por Francisco Cândido Xavier. A grandiosidade dessa divina obra se agiganta ainda mais, se considerarmos que a obra de Kardec, complementada por Chico Xavier, foi acompanhada por uma plêiade de espíritos superiores.

Pelas revelações de Emmanuel, deduzimos que o Espiritismo já existia havia quase vinte séculos, antes de se tornar realidade para os homens da Terra.

Muitos cuidados foram adotados, tanto pela espiritualidade, como por Allan Kardec, para que se preservasse a pureza dos princípios fundamentais emanados das esferas superiores, na codificação do Espiritismo.

Por que o primeiro Livro dos Espíritos, que continha apenas 501 perguntas, lançado na Libraire Ledoyen, na Galerie d’Orléans, do Palais-Royal, nas proximidades do Rio Sena, em 1857, não foi psicografado?

Para que não houvesse qualquer distorção material da obra, as meninas de Kardec — expressão criada por Canuto de Abreu, para referir-se a Caroline Baudin, Julie Baudin e Ruth Céline —, funcionaram como médiuns de efeitos físicos e não de psicografia, para que, de forma alguma, mesmo inconscientemente, pudessem intervir no processo de construção da doutrina nascente.

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O que dizer dos cuidados da espiritualidade, para que, da mesma forma que na codificação, fosse preservado o pensamento transladado de esferas superiores para a Terra, agora em solo brasileiro, por intermédio da mediunidade de Francisco Cândido Xavier?

Chico Xavier não poderia ter tido ingerência nas inúmeras mensagens de que se fez intérprete, porque, no início de sua grande obra psicográfica, pouco sabia de Espiritismo e dispunha de limitada cultura. Ele não teria, contando somente com os próprios recursos intelectuais, a mínima condição de produzir as peças literárias que recebeu e muito menos de exercer qualquer influência sobre os seus conteúdos.

Na verdade, por se tratar de espírito de grande elevação, esses atributos jaziam, em Chico, dormentes e contidos pelos laços reencarnatórios de sua existência física, e foram despertando, gradativamente, à medida que se consolidava sua parceira mediúnica com os mentores de sua grandiosa missão, principalmente com Emmanuel.

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Rivail/Kardec e Chico Xavier verteram muito suor e muitas lágrimas no desempenho do nobre destino que a codificação e a consolidação do Espiritismo lhes impuseram. Sofreram e tiveram suas estruturas físicas abaladas pelo ritmo de trabalho que desenvolveram? Sem dúvida! Mesmo assim, Allan Kardec desencarnou com quase 69 anos de idade, dentro das expectativas de vida de sua época. Chico Xavier, mesmo sendo constantemente bombardeado em muitos de seus órgãos, desencarnou com 92 anos de idade.

Suor e lágrimas em profusão, não impediram que Allan Kardec e Francisco Cândido Xavier cumprissem suas gloriosas tarefas. A eles, nosso humilde reconhecimento.