Autossabotagem – por Sidney Fernandes

Burlar a própria dieta, adiar indefinidamente os estudos para um concurso, recusar promoções na carreira, chegar atrasado ou faltar a compromissos importantes e repetir atitudes destrutivas são sintomas de autossabotagem.

Steven Berglas e Edward Jones, psicólogos americanos, desde 1978 passaram a considerar pessoas que apresentam esfarrapadas desculpas de carro enguiçado, gato doente ou emergência no trabalho, como genuínos artistas que dificultam a própria vida, de forma deliberada ou inconsciente. São pessoas que sabotam a si mesmas, porque não se julgam competentes ou merecedoras de uma situação melhor, e depois se oprimem.

A psicologia detectou hábitos e características crônicos na maioria dessas pessoas:

— Vitimização e falta de perseverança: o infeliz geralmente não assume responsabilidade por seus atos e não é perseverante na resolução de seus problemas;

— Confiança: pessoas felizes acreditam no lado bom das pessoas, enquanto pessoas infelizes são desconfiadas e se acham perseguidas por todo mundo;

— Lado ruim: pessoas infelizes tendem a fechar os olhos para o bom e a enaltecer somente o ruim;

— Sorte: a desculpa mais comum do incompetente é acreditar que a sorte favorece o outro e o azar é o seu companheiro inseparável;

— Medo: a insegurança e o medo do fracasso são atitudes paralisantes para a evolução pessoal;

— Perfeição: o infeliz e o autossabotador cobram-se em demasia e exigem perfeição em seus atos e resultados. “O ótimo é inimigo do bom”, diria Voltaire.

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Embora a ciência traga preciosa contribuição para o equilíbrio da personalidade humana, divorciar-se das causas espirituais poderia agravar o entendimento pleno do assunto.

Seria ingenuidade de nossa parte apelar para a suposta argumentação de que a autossabotagem se deve a existências pregressas regadas de luxos e riquezas, que nos levaram à derrocada existencial. Essas supostas facilidades seriam, inconscientemente, repudiadas por nosso espírito. Daí chegaríamos a tortas justificativas para a indolência, à falta de empenho, a descontinuidade de esforços, a insegurança e outras fobias.

Embora nos pesem, na atual vida, os insucessos do passado, convém sopesar alguns alertas da espiritualidade:

— A capacidade de sermos felizes depende de nós mesmos: embora vivamos num mundo de provas e expiações, do homem depende a suavização de seus males e o ser tão feliz quanto possível na Terra;

— Pessoas são perseguidas pelo azar?: lançamos à conta do destino o que as mais das vezes é apenas a consequências das nossas próprias faltas;

— Males são provocados por obsessores?: Deus não o permitiria. Espíritos podem se aproveitar de nossas más tendências para nos inspirar para o mal. Assim acontece com todas as tentações;

— Sofro mais do que os outros!: Deus é soberanamente justo e bom e não age com parcialidade. As vicissitudes derivam de causas justas que, se não forem encontradas nesta vida, com certeza serão devidas a males de existências passadas;

Meus planos são prejudicados pelos espíritos: Geralmente erramos na elaboração e na execução de nossos projetos. Eventuais más influências dos espíritos podem ser evitadas pelo nosso empenho e pela retidão de nosso caráter;

Deus não ouve minhas preces: A prece atrai bons espíritos que nos dão forças para suportar os obstáculos. Além disso, a resignação faz com que as provas nos pareçam menos rudes. A prece nunca é inútil, porque fortalece quem ora.

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A autossabotagem não faz parte do nosso quadro de expiações e provações e surge por causa de nossa invigilância e desatenção para com oportuna recomendação de Jesus, segundo anotações de Mateus:

Buscai primeiro o Reino de Deus e sua justiça.

Segundo Emmanuel, a maioria das dificuldades que encontramos, quando perdemos a bússola da vida, decorre:

— dos nossos caprichos, do predomínio de nossas opiniões, da subordinação e submissão de outrem aos nossos pontos de vista, imposição de autoridade e plena satisfação própria no imediatismo vulgar.

Em suma, a autossabotagem será evitada quando levarmos a sério as nossas obrigações de cristãos, colocando o bem comum acima de nossas exigências personalistas.

Encerro este texto, caro leitor, lembrando esta recomendação de Allan Kardec:

Quanto mais inteligência tem o homem para compreender um princípio, tanto menos escusável é de o não aplicar a si mesmo. Em verdade vos digo que o homem simples, porém sincero, está mais adiantado no caminho de Deus, do que um que pretenda parecer o que não é.