Assalto no Walmart com dois Mortos. Onde Estamos?

“E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado

Diante de qualquer, mas qualquer mesmo

Plano de educação que pareça fácil

Que pareça fácil e rápido

E vá representar uma ameaça de democratização do ensino do primeiro grau

E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital

E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto

E nenhum no marginal

E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina

111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos

Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres

E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos”

(Haiti, composição de Caetano Veloso e Gilberto Gil)

Recebi mais de 40 mensagens de amigos espíritas no meu celular a respeito do assalto no supermercado WalMart. Alguns condenavam os bandidos e diziam que “bandido bom é bandido morto”. Depois de um certo tempo recebi fotos de dois bandidos mortos. Se tornaram, então, bandidos bons, pois estavam mortos. Bravos policiais, correndo risco de morte, defenderam-nos, em honra à profissão que escolheram, não obstante os baixos salários e total desprezo por parte do governo à sua profissão.

Pois bem, ser espírita é, acima de tudo, ser cristão.

Como admitir, à luz do Evangelho, um espírita com semelhante atitude?

Somos responsáveis por todos com os quais convivemos na sociedade. Somos frutos uns dos outros.

Para lembrar, transcrevo a questão 813 de O Livro dos Espíritos:

-Há pessoas que, por culpa sua, caem na miséria. Nenhuma responsabilidade caberá disso à sociedade?

“Mas, certamente. Já dissemos que a sociedade é muitas vezes a principal culpada de semelhante coisa. Demais, não tem ela que velar pela educação moral dos seus membros?

Pois bem!

Continuamos na nossa mediocridade. Somos sepulcros caiados com podridão por dentro.

Nossos irmãos assassinados foram buscar no supermercado o que a sociedade não lhes concedeu ou mesmo retirou.

“Não saia de casa hoje à noite”, me escreveram vários amigos. Não tinha planos, mas saí de propósito. Não tenho medo dos irmãos infelizes, vítimas da sociedade, geralmente pobres, negros e analfabetos. Vítimas de nossa sociedade – nossas vítimas!

A união está bancando dívidas das operadoras de celular, que cobram as maiores tarifas do mundo, em bilhões de reais.

O governador de São Paulo anunciou na semana passada dezenas de medidas para ajudar grandes empresários de São Paulo, concedendo bilhões de reais de benefícios, muitos deles doadores de sua campanha.

O dinheiro é nosso. Poderia ir para a educação dos pobres mais que pobres.

Cadê o povo com panela na mão e vestidos de amarelo na avenida Andaló?

Com uma caneta na mão se comete crime mais hediondo do que com uma arma.

Existem bandidos que usam terno e gravata. São reverenciados e chamados de Doutor por grande parte de nossa sociedade.

Mas quanto aos bandidos?

Eles são pobres, são podres, são quaisquer, não é mesmo? Não têm mães, esposas e filhos que choram por eles.

Sim, sou pelos pobres, abandonados, refugiados, mulheres, analfabetos, gays e pretos.

Sou por Jesus.

Agora podemos ir tranquilos às compras.

A valorosa e injustiçada polícia nos protegeu do mal que nós mesmos criamos.

Feliz Natal.

Fernando Rossit