As duas Estradas

Por Itair Ferreira

Jesus, com uma técnica pedagógica única, incomparável, e dotado da presciência divina, sabendo que as Suas palavras teriam que ficar gravadas no tempo e no espaço para eclodirem de forma robusta em nossas almas, utilizou-se de parábolas que, como sementes, na época aprazada, dariam saborosos frutos sem serem interrompidas na sua divina trajetória pelos interesses do poder temporal, por julgá-las historietas sem valor.

Com o surgimento do Espiritismo, as parábolas de Jesus ganharam o seu verdadeiro significado e cada uma a sua sábia destinação: solucionar a equação dos problemas humanos.

No imortal e incomparável Sermão do Monte, em dado momento, o Cristo nos oferece a escolha do caminho a seguir, com a parábola intitulada, “As duas estradas”:

“Entrai pela porta estreita (larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz para a perdição e são muitos os que entram por ela), porque estreita é a porta e apertado o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela” (1).

Essa porta estreita e esse caminho apertado significam o controle que o espírito humano deve ter sobre as paixões más que o desvirtuam levando-o para a porta larga do caminho, devido às suas más inclinações.

A Terra, catalogada como mundo de expiação e provas, onde predomina o mal, arrasta os que não estiverem firmes na decisão de buscar o bem, os que não renunciam aos seus vícios morais, deixando-se levar pelas facilidades da vida, pela atração dos prazeres efêmeros.

Muitas vezes adiamos a escolha da porta estreita por não nos importarmos com o conhecimento da verdade. “Deixa a vida me levar”, diz o poeta no refrão da música. Dessa forma, vamos driblando as dificuldades, os contratempos próprios da existência, com a negligência dos aspectos superiores da vida.

Jesus sempre aproveitava os horários em que o templo estivesse cheio para ministrar os ensinamentos da lei de Deus, gerando confusão, em vista da rebeldia dos fariseus e dos saduceus, dos sacerdotes e do povo, em aceitarem a sua sublime doutrina. Certa feita, Ele afirmou: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (2). Mediante essa frase, a fúria tomou conta dos chefes religiosos, pois eles se julgavam os representantes de Deus e da verdade. Isso era uma heresia que deveria ser castigada com a morte. “Pegaram em pedras para atirarem nele”. Mas, como ainda não era chegada a Sua hora, “Jesus se ocultou e saiu do templo”. Posteriormente, advertindo Pedro, Jesus lhe disse: — “Pedro, o homem do mundo é mais frágil do que perverso!” (3).

Essa fragilidade humana é causada pela falta de conhecimento das coisas espirituais. Rebeldia natural gerada pela ignorância. Muitas vezes nos deixamos levar pelas circunstâncias da vida, esperando o tempo tudo resolver, até que somos surpreendidos, como nos afirma o instrutor André Luiz, no capítulo primeiro do seu primeiro livro, Nosso Lar, que narra a sua chegada ao mundo espiritual:

“Oh! Amigos da Terra! Quantos de vós podereis evitar o caminho da amargura com o preparo dos campos interiores do coração? Acendei vossas luzes antes de atravessar a grande sombra. Buscai a verdade, antes que a verdade vos surpreenda. Suai agora para não chorardes depois”.

Muitas pessoas questionam: “Por que essa porta tão estreita que só a muito poucos é dado transpor, se a sorte da alma é determinada para sempre, logo após a morte? Assim é que, com a unicidade da existência, o homem está sempre em contradição consigo mesmo e com a justiça de Deus. Com a anterioridade da alma e a pluralidade dos mundos, o horizonte se alarga; faz-se luz sobre os pontos mais obscuros da fé; o presente e o futuro tornam-se solidários com o passado, e só então se pode compreender toda a profundeza, toda a verdade e toda a sabedoria das máximas do Cristo” (4).

É necessário o esforço para domarmos nossa tendência de entrar na porta larga que nos conduz ao caminho fácil da ilusão. Não desanimemos, perseverando no bem, com paciência. A porta estreita nos conduzirá à estrada da felicidade verdadeira, e quem quer ser feliz tem que se fazer feliz.

Diz o amoroso Espírito Amélia Rodrigues, através da psicografia do querido Divaldo Pereira Franco: “Há flores no caminho, aguardando os homens que estejam dispostos a vencer as distâncias emocionais e espirituais que os separam, a conquistar os espaços morais!” (5).

Muita paz!

Fonte: http://www.correioespirita.org.br/

Dados bibliográficos:

1 – A Bíblia Sagrada – João Ferreira de Almeida –Mateus, cap.7, 13 e 14

2 – Idem, ibidem, João, cap.8, 32 e 59.

3 – Boa Nova – Francisco Cândido Xavier – Humberto de Campos – lição 26 – Feb.

4 – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec – cap. XVIII – item 5 – Feb.

5 – Há Flores no Caminho – Divaldo Pereira Franco – Amélia Rodrigues – Pág. 2 – Leal.