Almas Medíocres

Sidney Fernandes – 1948@uol.com.br

Quem não teve, uma vez em sua vida, necessidade de uma fé é uma alma medíocre.

Léon Denis

Parecia um sonho. O corpo movimentava-se mansamente em ascensão. Ajustando gradativamente os sentidos, percebi que, ao meu lado, subiam espíritos familiares.

Meus parcos conhecimentos sobre a vida além-túmulo foram preciosos e oportunos. Concluí que estava desencarnado e esperei, pacientemente, que o pleno raciocínio me acorresse, o que, em algumas situações, pode demandar dias ou até meses.

Vovô Ernesto, que estava comigo, deve ter muitos méritos, pois, através da sua intercessão, em poucos minutos senti uma chuva de fluidos magnéticos que envolveram o disco fotossensível do meu aparelho visual, aplicados por nobres autoridades espirituais.

Minha visão dilatou-se e meu raciocínio descortinou-se imediatamente. A primeira preocupação foi com entidade que prejudiquei, em minha juventude e, em seguida, com espíritos que me perseguiram e me atrapalharam sobremaneira a existência.

Grande alívio tomou conta de mim ao tomar conhecimento de que o espírito que eu havia maltratado havia reencarnado em meu seio familiar e por mim havia sido acolhido e cuidado com todo o carinho e atenção que dispensei aos outros filhos.

Voltei minha atenção para os que se consideravam meus inimigos e que, durante toda a minha encarnação, receberam minhas orações para que se aproximassem do bem. Graças ao apoio de Vovô Ernesto, pude visitar todos eles.

Agradecido ao Vovô Ernesto por essas revelações, pedi que ele continuasse a dar assistência àqueles irmãos infelizes, que, em dado momento de suas vidas, claudicaram e agiram como doentes do espírito.

Coloquei-me à disposição das autoridades espirituais, para trilhar os próximos passos em minha nova vida, no plano astral. Fui surpreendido com as palavras de Mãe Palmira.

— Ainda não chegou sua hora, meu filho. Esta jornada lhe foi concedida apenas para que você se fortaleça e dê continuidade ao trabalho que vem executando na Terra, onde ainda existem muitas almas desarvoradas, beirando a mediocridade, precisando ser urgentemente preparadas para sua futura vinda para o lado de cá.

Sem mais palavras, meus protetores envolveram-me novamente e me recolocaram no corpo físico, de onde estava parcialmente desligado.

***

Expressivas manifestações de Allan Kardec consubstanciam a força e a clareza que o Espiritismo proporciona à vida material e à vida espiritual, como notamos no hipotético episódio acima registrado.

Não é à toa que filósofos, e também religiosos que já amealharam um certo grau de cultura, de uma hora para a outra resvalam para situações de pânico, desânimo ou depressão, por não encontrarem explicação plausível, em suas crenças, para aparentes injustiças divinas.

Somente a lei das existências sucessivas pode elucidar graves questões, no momento em que o homem necessita urgentemente de ânimo para reanimar suas combalidas energias, diante de provas atuais e futuras.

Acreditar? Ter fé? Em que? Socorramo-nos em Allan Kardec.

— O Espiritismo me dá calma, firmeza, confiança e livra-me do tormento da incerteza. Ao lado de tudo isto, secundária se toma a questão dos fatos materiais.