Afinal, para quê tudo isso? Reflita com Léon Denis

“A alma deve conquistar, um por um, todos os elementos, todos os atributos de sua grandeza, de seu poder, de sua felicidade, e, para isso, precisa do obstáculo, da natureza resistente, hostil mesmo, da matéria adversa, cujas exigências e rudes lições provocam seus esforços e formam sua experiência. (…). É indispensável a luta para tornar possível o triunfo e fazer surgir o herói. Sem a iniquidade, a arbitrariedade, a traição, seria possível sofrer e morrer por amor da Justiça?

Cumpre que haja o sofrimento físico e a angústia moral para que o Espírito seja depurado, limpe-se das partículas grosseiras, para que a débil centelha, que se está elaborando nas profundezas da inconsciência, se converta em chama pura e ardente, em consciência radiosa, centro de vontade, energia e virtude.

Verdadeiramente só se conhecem, saboreiam e apreciam os bens que se adquirem à própria custa, lentamente, penosamente. A alma, criada perfeita, como o querem certos pensadores, seria incapaz de aquilatar e até de compreender sua perfeição, sua felicidade. Sem termos de comparação, sem permutas possíveis com seus semelhantes, perfeitos quanto ela, sem objetivo para sua atividade, seria condenada à inação, à inércia, o que seria o pior dos estados; porque viver, para o espírito, é agir, é crescer, é conquistar sempre novos títulos, novos méritos, um lugar cada vez mais elevado na hierarquia luminosa e infinita. E, para merecer, é necessário ter penado, lutado, sofrido. Para gozar da abundância, é preciso ter conhecido as privações. Para apreciar a claridade dos dias é mister haver atravessado a escuridão das noites. A dor é a condição da alegria e o preço da virtude, e a virtude é o bem mais precioso que há no Universo.

Construir o próprio eu, sua individualidade através de milhares de vidas, passadas em centenárias de mundos e sob a direção de nossos irmãos mais velhos, de nossos amigos do Espaço, escalar os caminhos do Céu, arrojarmo-nos cada vez mais para cima, abrir um campo de ação cada vez mais largo, proporcionado à obra feita ou sonhada, tornarmo-nos um dos atores do drama divino, um dos agentes de Deus na Obra Eterna; trabalhar para o Universo, como o Universo trabalha para nós, tal é o segredo do destino!

Assim, a alma sobe de esfera em esfera, de círculos em círculos, unida aos seres que tem amado; vai continuando as suas peregrinações, em procura das perfeições divinas. Chegada às regiões superiores, está livre da lei dos renascimentos; a reencarnação deixa de ser para ela obrigação para ficar somente ato de sua vontade, o cumprimento de uma missão, obra de sacrifício.

Depois que atingiu as alturas supremas, o Espírito diz, às vezes, de si para si: “Sou livre; quebrei para sempre os ferros que me acorrentavam aos mundos materiais. Conquistei a ciência, a energia, o amor. Mas, o que granjeei, quero reparti-lo com meus irmãos, os homens, e, para isso, irei de novo viver entre eles, irei oferecer-lhes o que de melhor há em mim, retomarei um corpo de carne, descerei outra vez para junto daqueles que penam, que sofrem, que ignoram, para ajudá-los, consolar, esclarecer”.

E, então, temos Lao-Tse, Buda, Sócrates, Cristo, numa palavra, todas as grandes almas que têm dado sua vida pela Humanidade! “

Nota do autor:

Transcrição parcial do capítulo XVIII – Justiça e Responsabilidade – O Problema do Mal, do livro O Problema do Ser, do Destino, da Dor, de Leon Denis.