A quem Deus Ama?

Conta-se que um bispo foi levado, certa vez, à casa de um homem idoso, que estava quase à morte.

Chegou e se apresentou, dizendo-lhe ali estar para orar por ele e o abençoar, quiçá lhe proferir a derradeira prece, no leito de morte.

O doente fixou o olhar grave sobre o religioso e lhe disse: Acho que o senhor está enganado e perdendo o seu tempo comigo.

Sou ateu por convicção. Fui político dos mais atuantes, durante a maior parte da minha vida, devotando minha juventude e meu ideal à causa da nação.

Participei da administração de meu país. Denunciei a corrupção. Voltei-me contra a opressão dos poderosos.

Defendi os interesses legítimos do povo. Fui caluniado, preso, torturado…

Passei muitos anos numa prisão infecta, em trabalho forçado, onde adquiri a doença que hoje me mata aos poucos…

Depois de uma pausa, prosseguiu: Mas não me arrependo de nada do que fiz. Pelo contrário, trago comigo a consciência tranquila por ter cumprido com o meu dever, por ter defendido os oprimidos e clamado por justiça. Haverá razão melhor para viver?

O bispo continuou a ouvir com atenção: Como o senhor vê, não tenho nada com a sua religião, porque não adoto a sua crença. Não sou, portanto, a pessoa que procura. O senhor bateu na porta errada.

O religioso era um homem de bem, alguém profundamente comprometido com o serviço ao semelhante. Reconhecia que se Deus lhe concedera a oportunidade de ser útil, lhe cabia atender muito bem sua missão.

Habituado a escutar a alma humana, profundamente sensibilizado pelo sofrimento daquele ser, fixou nele o olhar com admiração e respeito e num gesto de humildade, sorriu e disse:

Meu amigo, realmente, você já está aquinhoado com as bênçãos de nosso Pai, e eu estou aqui para pedir a sua bênção.

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Jesus afirmou que chegaria o dia que haveria um só rebanho e um só pastor.

Ele estava justamente se referindo a essa necessidade de nos amarmos como irmãos, acima e além de quaisquer diferenças.

Em essência, não importa como creiamos em Deus, ou qual a denominação pela qual O reconhecemos.

O que verdadeiramente tem importância é a forma através da qual demonstramos essa crença. Ou seja, como nos revelamos autênticos filhos do Pai Celeste, irmão de todos os seres vivos da Terra.

Redação do Momento Espírita.