A Dor de Perder um Filho é Inexplicável (dois casos de superação)

Momentos difíceis fazem parte da vida de todas as pessoas. A grande diferença, entretanto, é como cada uma lida com eles.

Conheça agora duas emocionantes histórias de superação de mulheres que usaram a dor que a vida lhes reservou para se reinventar e espalhar o bem para outras pessoas.

Quando o inimigo está na boca

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A comunicadora social Fernanda Menezes Fahel (foto acima), de 23 anos, foi diagnosticada com anorexia nervosa aos 15. “As diversas mudanças de escola, cidade e país, forçando a minha adaptação a todos esses lugares novos, foram muito difíceis. Além disso, não conseguia fazer as amizades durarem e sempre me sentia excluída no início. A gota d’água foi quando meu pai insinuou que eu estava gorda. Desde então passei a querer emagrecer cada vez mais”, explica.

Fernanda conta que só percebeu que tinha um problema quando as consequências começaram a aparecer. “Meus cabelos caíram, minhas unhas não cresciam, minha pele ficava roxa, pois eu tinha hipotermia. Por mais calor que estivesse, eu sentia muito frio. Tive amenorreia (ausência de menstruação) e acabei desenvolvendo hipoglicemia. Não tinha mais força para viver”, relembra.

A virada de chave aconteceu quando soube que uma amiga próxima também estava passando pela mesma situação. “Ela chegou a me contar as coisas que fazia para conseguir emagrecer e eu achava aquilo que ela fazia um absurdo, ainda que fizesse pior”, lembra-se.

E continua: “Me vi conversando com ela para incentivá-la a não fazer essas coisas e pensei que precisava melhorar para poder incentivá-la. Eu queria ser o espelho de que é possível superar o transtorno alimentar. Hoje, ela também está completamente recuperada”.

Aos poucos, Fernanda foi ganhando peso – com 1,74 m de altura, chegou a pesar 42 kg nos piores momentos da anorexia. Entretanto, à medida que voltava a comer, os comentários das pessoas próximas começaram a pesar demais.

“Elas falavam ‘Nossa, Fernanda, que milagre ver você comendo’ ou então ‘Que bom que não está mais magrinha’. Como eu ainda não estava bem psicologicamente, aquilo me afetava muito, gerando uma ansiedade muito grande”, afirma.

Fernanda acabou indo de um extremo ao outro e desenvolveu bulimia e compulsão, chegando a pesar 90 kg.

“Consegui superar com a insistência da minha família no tratamento e com o amor dado por eles. Percebi num certo momento que o mais importante é olhar para dentro de nós, pois a beleza interna é o que importa. Passei a fazer exercícios diários para enxergar meus pontos positivos”, relembra.

Quatro anos depois, Fernanda considera-se curada. Consegue comer equilibradamente, sem culpa, e faz atividades físicas regularmente. Para dar força para outras meninas e mulheres que passam por situações de distúrbio alimentar similares às que enfrentou, criou um blog – Despedida de Ana e Mia – e dá palestras em escolas.

“Relato minhas experiências, falo sobre autoestima. Hoje, sou muito feliz com a minha vida, com meu corpo, com tudo. Me considero uma vitoriosa, pois sei o quanto é difícil de passar pelos transtornos alimentares. E mesmo com toda essa trajetória, consegui extrair o melhor da experiência: transmitir para as pessoas essa superação”, conta.

A dor de perder um filho

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Quem nunca passou por isso sequer pode imaginar o tamanho da dor de perder um filho. A médica Rosangela Cassiano, de 50 anos, viveu essa situação nem uma, nem duas vezes… mas três.

“A primeira vez que vivenciei a perda de um filho foi em 1985. Estava grávida de 19 semanas e houve um sangramento. Fui para o hospital e meu bebê já não tinha mais frequência cardíaca, estava morto na minha barriga”, conta.

Nove anos depois, Rosangela perdeu Reinaldo, seu filho adotivo, em um acidente de mobilete. Foi avisada por telefone, poucos minutos antes de começar uma palestra em um hotel em São Paulo. “No exato momento em que soube do estado do meu filho, muitas coisas passaram em minha cabeça, muitas cenas…”, lembra-se.

Rosangela conta que seu primeiro sentimento foi de negação, depois solidão, desamparo, raiva e depressão, cada um em seu ciclo.

Foram as filhas Marielle e Michelle que lhe deram o sentido de que ela precisava para seguir em frente. “Era preciso retomar a minha vida sem aquele que também era uma das pessoas mais importantes na minha vida”, diz.

Em 2011, Rosangela enfrentou sua terceira perda. Na véspera do Dia das Mães, seu telefone tocou de madrugada. Marielle havia sofrido um acidente de carro. Faleceu 20 minutos depois de chegar ao hospital. O desespero tomou conta de Rosangela. “De novo, não, meu Deus”, era tudo o que ela pensava.

A dor do luto não deu trégua, mas, com o tempo, Rosangela conseguiu superá-la mais uma vez, com ajuda da filha Michelle e da neta Maria Vitória, de 4 anos (que aparece na foto com ela, acima). Durante todo esse período, questionou-se por que a vida havia lhe tirado três filhos.

“Depois de tudo isso, cheguei à conclusão de que posso ajudar pessoas que também perderam filhos. Descobri minha real missão nessa vida e decidi me transformar em coach de luto de mães. Foi a forma que encontrei de ajudar outras mães a encontrar um novo caminho sem a presença física de um filho que morreu, a buscar um novo propósito de vida, a criar novos caminhos para voltar a encontrar o sentido da vida”, explica.

“A dor da perda de um filho é inexplicável. Mas pode ser transformadora a quem se dá a oportunidade de renascer. Nós não temos a total compreensão de algumas coisas, mas somos capazes de superar, porque a vida é assim. A única certeza que temos é: nascemos, evoluímos ou não e morremos. A morte é para todos”, conclui.

Fonte: UOL

Originally posted 2015-12-24 08:53:24.